sábado, 13 de abril de 2013

Tributo a João Barrêto II :João de Sá Barrêto, Menestrel Pedreirense



João de Sá Barrêto, Menestrel Pedreirense

Raimundo Carneiro Corrêa


“... o poeta de expressão espontânea, rica e forte.
Kleber Lago

A humana migração buscou o rio onde beber, banhar-se, cultivar o vale verde mata. E, para não morrer, mata.
A floresta, para que a terra possa frutificar o arroz, o milho, o algodão, a cana-de-açúcar. Porque a família humana ama e se funda, fecunda, e se faz cidade.
Cidade do olhar a ver terra e céu, um morro com forma de sagrado peito de gaia, ponto a marcar-se com uma cruz. Onde humanidade e divino se encontram e se aparece o santo São Benedito. Pedreiras, então o nome, que a comunidade fala e, pela região, espalha e onde a poesia escolhe quem a diga palavra beleza do destino riqueza que a cidade tem para seu povo.
Povo que se identifica no ser arte, a auto afirmar-se em poesia, música, artes plásticas, educação, comércio, indústria, ciências!... Pedreiras de João de Sá Barrêto, Pedreiras de Corrêa de Araújo, João do Vale, Dr. Josélio, Dr. Lobato, este que lhe deu os símbolos de sua beleza glória identidade. Pedreiras dos políticos bons e maus que ultimamente deram-se, estes maus em maioria, a demagogiar, usar a política como farsa... E, então, é que nos aparece o Menestrel João Barrêto.
Com a poesia que não se conteve e foi ao comício que se fez comédia poema de cordel, mas como ouro anel nas mãos dos pedreirenses, riqueza verbal como vara de uma bela surra a chamar a atenção para o problema lixo, no poema “Lixo”, que se inicia assim:

“Nos bons tempos de comício,
O progresso tem inicio
Marcado para logo mais.”

Logo mais” dos demagogos para que a população lhes dê espaço de tempo esquecimento até o próximo pleito, tempo em que se acumule “... lixo raçudo / vai cobrir aquilo tudo.”
Utilizando-se do verso em redondilha maior, por sua expressividade linguagem popular, cria o autor poema denúncia do que a cidade mais carece: carinho, limpeza que, pobremente, mas rima com beleza. Quem não quer ser achado belo amado?!... A cidade então!...
Cidade abraço cidadão. Que chama à intervenção da poesia para contar-lhe também sua dor. E, como num curativo que faz doer, assopram os lábios amorosos sobre o remédio que causa dor no ferimento, João Barrêto usa o trágico e o cômico e até o realismo fantástico quando dá personalidade ao lixo, “que anda triste e chorando/ procurando onde ficar!”
    Lixo que sobra! Sobras do mal resultado de ausência do que seria uma política pública de coleta e destinação planejada dos sujos que o coletivo viver produz. Que de tão largado lixo tornou-se poema da coragem a traduzir-se amor solidariedade com o sofrimento da população que teve de conviver com a sujeira que lhe compromete a saúde e o bem estar social. Sujeira que é marca dos nossos tão baixos índices de desenvolvimento humano. Tão baixos, por quê?!
O poeta esclarece:
“Certo é que todos penam
Mas os doutores acenam,
Prometendo e prometendo
A salvação muito urgente.” 
“Prometendo, prometendo,” a repetição enfática do que já se comentou. A indústria da alienação que mantém as massas em vergonhoso analfabetismo político que dá razão ao provérbio popular que sentencia: “o povo tem o governo merece.”
“Ai, coitada de Pedreiras,” geme o poeta, quase vencido diante do quadro que a musa, incumbiu-o de contemplar e cantar. Mas não desiste. Seu canto eterniza-se como profecia da força persistência consciência de um lutador em busca do que se realizará num futuro próximo, a transformação histórica do contexto, com sua lira a descrever com linguagem aprendida gramática popular. A marcar época, tempo página de sua escrita para as leituras atuais e do porvir, tanto por intelectuais, também o povo que ainda não sabe ler.   
Cantoria cativante, sem arrefecer o ritmo, corajosamente cantador, realista, universal pelo que tornou como tema, problema das convivências sociais urbanas.
E tão igualmente regional.
Seu cuidado por Pedreiras, cidade mulher que carece de um banho de cheiro, vestir-se melhor, calçar sandálias para dançar à música da sanfona do Zé Caxangá, personagem do poema ,música de João do Vale, o “pisa na fulô”!
Fonte popular, a festa, que João Barrêto visitava para colher inspiração que o fez também clássico autor de sonetos de admirável perfeição formal, demonstrando consciência, temática e técnica na composição do poema. A produzir uma obra poética engajamento com qualidade antológica, tal como o faz Ferreira Gullar no seu “Poema Sujo”, ao retratar, poetizar uma São Luís tão suja, pobre, necessitada de amor, tal a Pedreiras do poema “Lixo”.
A leitura cantoria de “Lixo”, enfim compromete o leitor a também ver, brigar, denunciar e... Ajudar-se também com a compreensão de que é produto nosso, do nosso viver economia amor e festa. Cuidemos do nosso lixo para que não seja de outros e cuidando para que a comédia comício transforme-se em encontro debate a construir com responsabilidade nosso projeto de cidadania que se enflore e dê frutos de viva sadia democracia.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Tributo a João Barrêto: Dois anos de Saudades...



Dia 11 de abril nos deixa um gosto de saudade na Poesia... é o dia em que partiu o poeta pedreirense João Barrêto, uma voz poética que eternamente nos falará!



João Barrêto. Tela de Álvaro Pacheco
Pálida Lembrança
João Barrêto

Por que os anos se foram tão depressa?
Por que o tempo seguiu me não parou?
Por que segui, também, com tanta pressa
E não fiquei com tudo que ficou?

Como a tocha voraz que se arremessa
Sobre a relva que um dia o sol secou,
Foi a desdita cruel sobre a promessa
Que meu peito infeliz acalentou.

Nosso idílio tão belo, como a lua
A espelhar-se num lago de água mansa,
Unia minha alma a alma tua.

E hoje, já desfeita a esperança,
Em meu peito apenas se insinua

Uma eterna e pálida lembrança.




É retórica a “Pálida Lembrança”
Ana Néres Pessoa Lima Góis

“Ainda que pregue que não há consolo satisfatório, talvez satisfaça-nos em parte o que possa brotar com o tempo sendo o maior conciliador...”

 Como costuma dizer Samuel Barrêto citando Jessier Quirino: “A morte é um louco roçando mato”. Então, em sua euforia sem razão, esta colheu a presença material de seu João Barrêto dentre nós sem nos deixar satisfação... Mas felizmente esse “louco de foice na mão”, não pôde fazer o mesmo com seu lirismo que fincou raízes e floriu no solo ludicamente pedregoso de Pedreiras, chegando até aos seus arredores, de onde eu pude contemplar seu poema maior em que descobri ser apenas retórica a “Pálida Lembrança”, que na verdade como em toda sua obra, que conheci como leitora e agora conheço como pesquisadora, está recheada das lembranças mais nítidas e transcrevíveis das impressões e vivencias do poeta.

Palavreando Ferreira Gullar em “Meu povo e meu poema crescem juntos”, João de Sá, pelo teor que nos remete o “Barreto”, ainda em vida já tinha doado-se ao barro fértil de pedreiras, onde mesmo as pedras grandes e pequenas, a ainda as atiradas, não o impediram se lavrar-se juntamente com seu povo, e ainda juntamente a ele se dar ao crescimento rumo ao comprometimento pelo bem de sua terra, e também o digo baseado em sua obra, que este juntamente a ele, povo, se fez árvore, e em se fazendo árvore, se fez sombra para que continuassem crescendo, pois as ervas daninhas da politicagem às vistas de João, eram ainda a pior praga de sua terra e de seu Rio.

Infelizmente foi pouco o espaço de tempo que me separou do conhecimento da obra e do artista, porém, são tão nítidas as impressões deixadas por sua pena, que chego a sentir o timbre da voz nos esmerados acordes poéticos recitados por Seu João. Creio que seu nome será lembrado como uma das maiores vozes poéticas de Pedreiras. Com certeza serão comemorados ainda incontáveis anos, não de morte, mas da imortalidade da fala do vate de voz que canta e cantará eternamente o lirismo da nostalgia, da vida e do amor, principalmente do amor que o faz denunciar com tom de protesto e crítica sobre os males, que à sua vista se abatem sobre sua terra, em que agora além de poeticamente, literalmente está plantado e suas raízes poéticas florescerão e darão frutos eternamente!



Primeira Canção de Saudade
Para o meu Amado Pai João Barrêto
              Samuel Barrêto

A manhã se levantou lentamente nos meus olhos,
Fui tomado por um impulso de coragem e uma enorme
Vontade de ficar mais tempo nos lençóis da noite passada,
Virei de um lado para o outro, colado na amada companheira,
Mas tinha que ir. Fui... Enquanto despertava debaixo da água
Do chuveiro, pensei em muitas coisas vividas, olhei-me
No espelho e recordei profundamente do belo poema
De Quintana que tem o mesmo nome onde ali se refletia
A minha imagem, que naquele momento habitava dentro de um
Tumultuado silêncio, buscando respostas para muitas indagações.

Todos na casa dormiam tranquilamente e sol já se fazia presente
E minha alma de poeta estava sufocada com imagens do passado,
Fui até a esquina comprar o leite para o café da manhã, coisa bem
Costumeira de todos os dias, e no bar ao lado alguns bêbados
Já estavam mergulhados em muitos tragos, falavam de que? Não sei,
Só que sei que pareciam felizes. E eu continuava em pensamentos
Como se fossem redemoinhos girando dentro da minha cabeça,
Liguei o som para ouvir uma canção da minha pouca lavra,
Só que não poderia aumentar a intensidade sonora,
Pois as crianças ainda descansavam na leveza dos sonhos infantis.

Fui refazendo alguns passos da minha distante infância
E senti minhas pequenas mãos roçarem em uma espinhenta
E carinhosa barba ainda por fazer, enquanto minha Mãe
Preparava o café para todos, e não éramos poucos, além
Da gente, a casa sempre abrigava mais, e é assim a vida inteira...
Tive a sensação de ouvir aquela melodiosa voz cantando uma 
Das muitas canções que ele sempre entoava, mostrando-nos
Um caminho para o bom gosto genuinamente brasileiro.
Voltei para o espelho que continuava ali como se me esperasse,
E entre lágrimas vi o rosto do meu Pai refletido no meu.

quinta-feira, 28 de março de 2013

FESTA NA ACADEMIA



Ana Néres Pessoa Lima Góis
Francisco Brito


Para empossar a nova Diretoria e celebrar seu 12º aniversário a Academia Bacabalense de Letras - ABL, reuniu no sábado(23), na Escola de Música Santa Cecília, na cidade de Bacabal, a sua primeira Sessão Solene do ano. Um bom número de apreciadores da arte literária esteve presente. Simpatizantes da arte escrita, músicos, professores, escritores, compositores, poetas e artistas de terra.

Presentes, também ao evento, representantes das confrarias de letras de algumas cidades do Estado, entre elas a FALMA- Federação das Academias de Letras do Maranhão, representada pelo seu vice-presidente e membro da Academia Sambentuense, Álvaro Urubatan(Vavá), Joana Bittencourt, da Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências - APLAC; Ana Néres Pessoa Lima Góis, da Academia Esperantinopense de Letras – AEL, Francisco Brito de Carvalho, da Academia Barra-Cordense de Letras - ABL,  membros efetivos da ABL bacabalense, e autoridades de Bacabal, que se destacaram nos discursos e abrilhantados pelos músicos da escola anfitriã, que antes da abertura das comemorações executaram hinos de boa audição, regidos pelo maestro Victor.

 O novo presidente empossado, poeta Zezinho Casanova, inovou quando de improviso discursou em tom poético, quebrando desta forma os protocolos vencidos pelo excesso de inspiração e, tomado do novo fôlego que se faz voz de comando na casa das letras bacabalenses. Não foi só de boas vindas o brado que adentrou a reunião acadêmica para festejar a posse da nova diretoria da ABL, e encabeçada pelo presidente, Zezinho Casanova, também não foi de repreensão o brado do poeta presidente, foi algo assim como um desabafo de amor às letras e àquela casa de ilustre colaboração para a cultura de Bacabal. No entanto, não se pode abater quem ama e trabalha pelo que acredita não se pode falar de fel se da boca mana o mel lírico que permeia e adoça a vida!

Uma Academia voltada para a cultura, para a arte popular, pois sabemos que a cultura emana do povo e para o povo! Uma Academia para a cidade, para as ruas e escolas da cidade! Lugares em que se constroem a cidadania e noção que se tem sobre o fazer artístico. Foi com essa vocação, com a qual se apresentou a nova diretoria ao tornar público seu plano de ação e objetivos.

Não é de hoje que as Academias do interior do maranhão tentam se diferenciar do modelo clássico antigo. Porém, enquanto se atrelarem às críticas lançadas de longe e de contextos diferenciados dos seus, não servirão de amparo para a cultura dos lugares em que estão fincadas. Vamos despir os fardões e fazer militância literária nas ruas e praças... Vamos nos desmistificar das páginas dos livros publicados e recitar, ensinar e palestrar nas escolas... Até quando vamos deixar que os quilômetros que nos separam da terra em que “ainda” fazemos parte de uma Academia nos impeçam pelo menos de dar nossa contribuição intelectual e financeira a ela? Não... Um enterro com a gala acadêmica não tornará uma vida imortal... Imortal é a história que deixamos pelos rastros de nossa própria escrita e ações em prol da instituição da qual fazemos parte!

São destes timbres as propostas apresentadas na noite de sábado, para os que se fizeram presentes na solenidade, aplaudidas pelos presentes e endossadas pelos discursos pronunciados por todos. Motivo para alegria, conquista e comemoração, foi que o poder público de Bacabal tenha estendido sem medidas a sua mão beneficiadora àquela instituição. Que seja imitado por outros dos arredores esse bom exemplo de compromisso com o fazer artístico que é também educacional.

Ao final da cerimônia e começo de uma nova administração, Costa Filho, empossado vice-presidente, com sua sensibilidade extraordinária, nos presenteou com o que podemos chamar de o ensaio das cadeiras desocupadas...  Porém, entre um “por quê” ou “por que” muitos “porquês” vieram em nossas mentes, enquanto a voz do poeta versava contundente em seu discurso encenação poética! E no auditório que o observava, não havia lacunas, pois o remanescente dos que são capazes de fazer a cultura estavam ali... Atônitos e maravilhados a sorver tão preciosa mensagem!

Após o banquete de pronunciamentos e poesia, pudemos nos confraternizar com aquela casa, à medida que satisfazíamos o paladar no coquetel e conversas em que todos estiveram interagindo, trocando experiências e conferindo a exposição da literatura bacabalense!       

Presidente eleito e empossado Zezinho Casanova, concedendo entrevista a emissora da cidade de Bacabal
Joana Bittencourt, da Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências - APLAC; Ana Néres Pessoa Lima Góis, da Academia Esperantinopense de Letras – AEL; Costa Filho, da Academia Bacabalense de Letras, ABL; Álvaro Urubatan(Vavá), vice-presidente da Federação das Academias de Letras do Maranhão, e membro da Academia Sambentuense ;  Francisco Brito de Carvalho, da Academia Barra-Cordense de Letras - ABL.
Encontro que marcará a História da Literatura da Região do Mearim.
Francisco Brito da ABL, em seu discurso.
Presença marcante de autoridades da cidade de Bacabal.
Costa Filho e Francisco Brito registrando a visitada exposição da Literatura registrada em solo bacabalense.




quinta-feira, 21 de março de 2013

Um Rio e alguns templos para as letras




 Por uma Academia Engajada na Cultura! 

É notável em nossa região o número de Academias de Letras, assim como também é notável a vocação para poesia e escrita que é remanescente entre os nossos: ABL - Academia Barra-Cordense de Letras; ABL - Academia Bacabalense de Letras; APL - Academia Pedreirense de Letras; AEL - Academia Esperantinopense de Letras e a ALL - Academia Lagopedrense de Letras. Eis algumas das oficinas de valorização e propagação da cultura do povo das cidades privilegiadas. Outrora, a finalidade destas instituições seria zelar por uma unidade nacional da língua, porém, agora a missão constituída é zelar pela expressão do povo enquanto identidade cultural e popular. Popular não no sentido contraditório ao erudito, mas, de legitimidade, e ainda de propiciar a elucidação do nosso pensamento, de sua imortalização através da escrita da história, dos anseios, dos amores, da devoção e da tradição do povo.

Trago este tema à tona, porque neste próximo final de semana serão realizadas as posses das diretorias de dois Sodalícios citados acima, na APL serão empossados:FILEMON KRAUSE, Presidente; SAMUEL BARRÊTO, Vice-presidente: JOAQUIM FILHO, 1ª Secretária; FLORISA LIMA, 2º Secretário; NONATO MATOS, 1º Tesoureiro; EDIVALDO SANTOS, 2º Tesoureiro; MOISÉS ABÍLIO, Diretor de Marketing e Cultura. Enquanto na Academia Bacabalense de Letras empossam-se os confrades: FRANCISCOJOSÉ DA SILVA, Presidente; JOÃO BATISTA DA COSTA FILHO, Vice-Presidente; RAIMUNDO LAÉRCIO DE OLIVEIRA, Secretária Geral; MARIA RAIMUNDA LOPES COSTA, 2ª Secretária; ELIENE LOPES DE SOUZA, 1º Tesoureiro; JACSON LAGO FERREIRA, 2ª Tesoureira; ALINE FREITAS PIAUILINO, responsável pela Biblioteca.

 Hoje o maior patrimônio intelectual de nosso povo é a língua. Ela é nosso DNA cultural que mantém viva as tradições com as raízes mais profundas em nossa comunidade. Por isso, se torna tão importante que exista uma entidade representativa das letras, para que seja a guardiã do pensamento e criatividade de cada Aldeia. Mas será que é assim mesmo que acontece? As Academias do interior do Maranhão são alvos de críticas, no entanto, estas deveriam se diferenciar àquelas que estão localizadas nos grandes centros, e não proporem-se a continuar a ser somente um templo aristocrático de cultura em torno de personalidades literárias. Não afirmaria que não possam existir personalidades literárias, até porque nos orgulha que o Maranhão possua muitas delas, desde os primórdios de sua História. Mas, que as Casas Literárias não se afastem de promover a cultura popular dos locais em que estão fincadas, a não ser por esporádicos eventos em que poucos são os acadêmicos que participam efetiva e ativamente.

Fico triste com alguns acontecimentos que envolvem o cotidiano de nossas Academias, e sobre os quais a maioria das vezes são poupados comentários por recalque ou mesmo tolhimento. Porém, não consigo deixar de citar quando percebo que existem pessoas ligadas às confrarias que somente estiveram no dia da posse, há meses, anos e até décadas atrás... Pessoas que não representam o engajamento precioso pelo qual se faz uma comunidade valorizadora da cultura e da arte em seusmuitos aspectos...

Vamos despir os fardões? E fazer militância literária nas ruas e praças... Vamos nos desmistificar das páginas dos livros publicados? Recitar, ensinar e palestrar nas escolas... Até quando vamos deixar que os quilômetros que nos separam da terra em que “ainda” fazemos parte de uma Academia, nos impeçam pelo menos de dar nossa contribuição intelectual e financeira a ela? Não, um enterro com a gala acadêmica não tornará uma vida imortal... Imortal é a história que deixamos pelos rastros de nossa própria escrita e ações em prol da instituição da qual fazemos parte!

E por falar em escrita... Vamos produzir escrita? Quer seja literária, poética, didática, científica... Porque como acadêmicos que somos, temos que nos envergonharmos caso estivéssemos estagnados ao título que recebemos de poeta ou escritor ou pesquisador, há tempos... E sem nunca provar a que viemos... Porém, antes de tudo isso, devemos ocupar os bancos vazios das nossas reuniões...

Não, o que era pra ser crônica, não passou a ser algo como “puxão de orelhas” literário... Ainda é crônica, e utilizando a beleza de significações de nossa “Flor do Lácio”, hoje tão inculta e felizmente popular, ainda porta voz da identidade tão regionalmente nossa, desejamos que essa crônica não cronifique um mal que não era pra ser crônico, que ela possa abrir janelas de mentes e assanhar disposições e assim quem sabe... Construirmos uma casa que acomode verdadeiramente os moldes de nossa cultura, geridas e formadas por pessoas comprometidas com a arte local.

Encerramos com as palavras do novo presidente eleito da Academia Bacabalense de Letras: "A Academia somos nós, é uma fotografia digital do povo de Bacabal, por isso merecemos o respeito das autoridades, somos a casa do artista da palavra, expressão maior de nossa cultura, uma academia é muito mais do que fardões sessões solenes enfadonhas e distantes da realidade da comunidade, vamos fazer uma gestão diferente, quase rebelde, colocar a academia nas ruas, praças, escolas, universidades, e fazer valer as idéias de nossos ancestrais literários..."

Ana Néres Pessoa Lima Góis

quarta-feira, 20 de março de 2013

Poeta e o Rio

Estes dias o Rio muito tem me feito pensar, imaginar e meditar...


Então trago de volta à tona nas correntezas da vida este texto do qual gosto muito e tem extremo significado em minha escrita que tanto busca, procura, aventura, na tessitura da voz, canto, água, vida, sustento e inspiração....



Imagem do Rio Mearim
no Povoado Palmeiral - Esperantinópolis- MA
Em manhã de buscas a mais um corpo
encantado nas águas do Rio...

A História é feita de homens, homens e rios, e quis o destino como num enredo de um festejado cordel, tecer a trama em que estes fossem a salvação e perdição um do outro.

O Rio corre e nunca foge do destino que leva consigo nas suas correntezas, o destino de ser sempre o mesmo e de nunca voltar a ser. O homem nasce, cresce e vive às suas margens e tem a sina de sempre banhar-se em águas diferentes, mesmo atracado num só porto. Somente o homem tem o poder sobre a vida do rio, mesmo sendo mais frágil do que este. E o rio que sustenta a vida do homem poderá tirá-la a qualquer momento.

É certo que quem bebe das águas de certos rios fica cativo, e num vale chamado Mearim dizem que o Rio produz uma grande quantidade de vates às suas margens, e esses profetas cantam e encantam em seus arredores. E assim a correnteza vai levando a vida, literalmente, enquanto observa a história sendo levada sempre ao presente por uma correnteza de acontecimentos.

Porém as ações dos homens e do Rio que fazem que refazem a História não permanecem por si só, pois as folhas do tempo são frágeis e se desbotam ao calor de novos acontecimentos, ou ao salpicar das águas de fortes correntezas. Então é preciso escrever enquanto se navega, e os mensageiros impostos pelo Rio enquanto relatam olham muito mais a paisagem e aproveitam-na em suas delícias.

Durante os passeios intermináveis fazem da história de seu povo canções, pintam quadros poéticos de suas margens e se encantam com as sereias que disfarçadamente lavam roupas para vê-los passar.

Pela manhã ao acordar envolto do vento agradável que sopra das margens até o balouçar da rede de algodão armada na lancha, percebem a lida do homem que sobrevive do rio, e a lida do rio que tenta sobreviver ao homem. Ao meio dia percebe-se que os pratos dos ribeirinhos não se fazem mais fartos como antes, porque “o rio não está mais pra peixe”, e na próxima parada discute-se com a comunidade uma maneira de apaziguar esse duelo entre a natureza e o sustento da vida.

No início da tarde quente apenas refresca os pés nas águas, pois a visão dos dejetos não lhe permite um mergulho com a consciência tranquila e faz um poema sobre a possível morte do rio, e percebe o quanto ainda tem a pensar e dizer sobre isso... sobre o rio, sobre a cidade que ele banha, e as vezes que soterra a vida em sua fúria natural, mostrando que também pode traçar sentenças, antes que venha a perecer na teia das sentenças dos homens.

A noite chega e se entrega então aos encantos da lua, e quem sabe das musas sereias de água e beijos doces que povoam o imaginário dos poetas do Rio. É hora de esquecer as mágoas do dia e dos dias e numa roda de viola cantar as canções da vida, recitar os relatos do que viu, sentiu e ouviu...

E assim o tempo vai passando enquanto o poeta do Rio registra sua vida e a vida ao seu redor, pois o tempo passa assim como a correnteza e em sendo cúmplice do Rio, mensageiro que se fez sua voz, não foi favorecido com a imortalidade que já nem sabe-se se o próprio Rio tem, porém sabendo o Rio que perderá seu profeta antes que ele mesmo se perda, sopra-lhe um conselho no vento: Escreves e escreves, assim serás imortal. E quem sabe um dia eu me torne somente recordação nos teus poemas, selando assim a nossa infinda parceria....

                                                                                                   Ana Néres Pessoa Lima Góis

quinta-feira, 14 de março de 2013

À Poesia do Mearim...

No dia da poesia, que vejamos a "nossa" POESIA!


Foto:Ana Néres
Imagem de uma casa de taipa (pau a pique)
O olhar viu poesia no encontro das cores
do barro que constrói nossos caminhos
e o lugar no qual muitos de nós
ainda agasalha os sonhos!
“Poesia, porque a vida não basta”, porque o sonho não desenhado em letras não se perpetua, porque a escrita sem emoção não satisfaz nem a razão... Poesia porque a vida urge em viver além da matéria, porque o que se vê ganha outro sentido, porque o que se canta preenche mais motivos...

Poesia enramada nas vazantes, enraizadas em campos verdejantes, deitada numa rede na latada enquanto é acariciada pelo vento que  nina a correnteza... e também nossos instantes...

Poesia do babaçu, seios morenos, da palma harpa pelo vento... do cheiro de terra e da mata...  da esperança verde a qual não se desmata...

Canções soam de todos os cantos, do sabiá que não se rende, e em seu posto altivo a voz ainda suspende, por entre as as serras irmanadas... nosso refúgio, pro dito progresso: a barricada...

Um verso tecido pelas mãos, uma  semente estrofe em terra semeada, acolhida, e bem agasalhada, papel, poema fruto plantação...

A poesia é planta nativa, flor da beira da estrada, é natural e não semeada, não desabrocha em jardim... é ramo deixado na janela, é prenda a esperar por mim...

Do sabiá que fecha a vereda, o espinho e o perfume... do quadro interiorano a arte que o resume, o olhar do ipê e no amor pela terra que um povo assume...

Inspiração sossego deita o sol, tomando à noite a lua morna, bronzeando olhares apaixonados, no espelho Mearim de águas, refletem os enamorados...

Na calma da noite escreve a alma, pelas frestas o silêncio no pau a pique exala... reclina a cabeça em branco algodão, versado fio a fio por poemas mãos...

Poesia porque o chão é duro, e a falta não preenche os que separam os muros, e o povo que na praça recita é dono de seu mundo!

Poema porque o pão ainda é pouco, e o povo que não tem, nem canta é louco, pois perdeu a parte mais exata da razão...

Poesia porque a vida é dura, é inteligente quem adoça a labuta, com a garapa tirada da própria plantação...

Poema porque o tempo é breve, e quanto mais se vive, mas se perde, a noção do belo da canção...

Poesia porque a arte é do povo, não tem quem a domine ou a sequestre... é  matéria prima, é identidade é gozo, e não há porque a renegue...

Poema porque a escrita é direito, viver, saber e perpetuar os feitos, é sinal de humanidade e inteligência, uma odisseia em prol da existência!


Ana Néres Pessoa Lima Góis

I Semana Lagopedrense de Literatura e Artes


A I Semana Lagopedrense de Literatura e Artes é um evento realizado pela Academia Lagopedrense de Letras e Artes (ALLA) e pretende agregar valores culturais e intelectuais, trazendo conhecimento e experiência aos participantes, além de incentivar e divulgar a literatura e as artes lagopedrenses e das cidades vizinhas, pois sabemos que as produções literárias, de todos os tipos e todos os níveis, satisfazem necessidades básicas do ser humano, essa incorporação enriquece a nossa percepção e a nossa visão do mundo.

A ALLA é a idealizadora e responsável por este evento, que ocorrerá nos dias 18, 19 e 20 de abril de 2013, no Colégio São Francisco de Assis. Oferecendo palestras, oficinas, exposições e feiras literárias e artísticas, além de lançamento de livros e apresentações de peças teatrais e de cantores da terra.

Nesta primeira edição, pretende-se atingir a classe estudantil e os professores das redes municipal, estadual, federal e privada do município de Lago da Pedra e das cidades vizinhas, além de profissionais envolvidos com literatura e qualquer outra arte e de pessoas que apreciam esse tipo de evento. Estima-se a participação de 1000 pessoas.

O tema escolhido para este ano será “Artes e Literaturas fazendo a cultura Lagopedrense”. A base desse tema é a tentativa de resgatar e incentivar a literatura e as artes lagopedrenses, dando maior importância à cultura.

A cultura de um povo é o retrato do próprio povo. A cultura surge de várias formas, uma delas é a literatura, através desta última é possível reconhecer o passado, entender o presente e planejar o futuro. Através da literatura se faz o retrato de uma época, seus usos, costumes, ideias e problemas. As outras artes, plásticas, cênicas, etc, abrilhantam a cultura de um povo. Não importa se é escritor, escultor, ceramista, pintor, arquiteto, músico, ator ou outro profissional, todos estão fazendo sua arte e merecem destaque.

A I Semana Lagopedrense de Literatura e Artes possibilitará que estudantes e professores das redes municipal, estadual, federal e privada do município de Lago da Pedra e das cidades vizinhas, além de profissionais envolvidos com literatura e as outras artes interajam entre si. Os artistas poderão expor e comercializar suas produções e a população poderá conhecer seus artistas e contemplar suas obras.

A decisão de realizar este evento surgiu quando a ALLA percebeu a carência de eventos lagopedrenses que incentivem a cultura e os artistas locais. O evento pretende proporcionar crescimento tanto aos participantes quanto aos organizadores e aos patrocinadores. Pois para os participantes trás uma possibilidade ímpar de conhecer a arte a cultura lagopedrense, para os organizadores se torna uma grande experiência em sua formação à medida que possibilita vivências não oferecidas no dia a dia e os patrocinadores conseguem expor eficientemente sua marca, alcançando um público misto.

A Academia Lagopedrense de Letras e Artes (ALLA) foi fundada dia 20 de outubro de 2012, numa solenidade realizada na câmara municipal de Lago da Pedra, estiveram presentes várias autoridades do município e do estado. A ALLA é vinculada à Federação das Academias de Letras do Maranhão e à Academia Maranhense de Letras.

A ALLA se caracteriza pela busca incessante de resgatar os valores intelectuais e artísticos de Lago da Pedra, ou seja, incentivar e divulgar a produção artística, literária e intelectual local. Contribuindo, assim, com a cultura da sociedade e com a geração de oportunidades de novos conhecimentos, além de debates e da integração da população de Lago da Pedra.